4 de mayo de 2015

Não é fado normal

Por Hugo Milhanas Machado

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Vinha no balanço dos poetas lá da terra e quando a canção começa a crescer alguns de nós batem palmas, outros procuram o rosto de um amigo não muito longe, queremos perceber o chegar da música e como bate e como começa a ficar a música em cada um de nós, por isso mexemos e olhamos depressa, temos aquela sensação do amigo que passa perto e não acaba de chegar, mas vai chegando, e depois tudo se começa a baralhar e confunde, começam essas terras a mostrar onde a gente não está e onde se calhar nem sequer quer estar, lugares ao fim e ao cabo bonitos, ou lugares de que a gente pode gostar, lugares fora de lugares, lugares bons, e a intuição mete-se gorda connosco e começamos a dizer ou a pensar que aquilo não é normal, ou primeiro pensamos muito fundo cada um de nós e depois dizemos como segredo, muito baixinho, nos pés da fala ou da falinha como aquele amigo disse, que isto não é normal, que não devia ser assim, que a guitarra vai por um sítio maluco, que faz até um estremecimento no corpo tipo navio, como se a gente andasse embarcada mas só de noite, nas horas do dormir e do esquecer, ainda que às vezes só desejemos dormir tão depressa quanto possível, por gumes uma viagem, e voltar a um dia parecido no dia seguinte, com coisas próximas e vizinhas, a música às vezes também faz isso mas por mais tempo, durando-nos muito mais tempo, ao ponto de acreditarmos ser possível retomar o passado todo ele num achado momentâneo de entusiasmos, quando crescem em nós emoções até então de pedra e compreendemos que algo em nós tinha começado a mudar, mas quando?